Energia e o Desenvolvimento Sustentável - O papel do setor agro

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O Prof. Dr. Fabio Soares fala sobre a evolução da demanda energética da humanidade, transição energética, impactos e oportunidades. Destaca as novas possibilidades energética para setor agropecuário.

Energia e o Desenvolvimento Sustentável - O papel do setor agro
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Setor Agro

Energia e o Desenvolvimento Sustentável - O papel do setor agro

Autor: Prof. Dr. Fabio Rubens Soares

Sustentabilidade é um princípio chave no gerenciamento dos recursos naturais, e isso envolve eficiência operacional, minimização de impactos ambientais e considerações sócio-econômicas; sendo todas elas interdependentes.

A energia é um dos aspectos chave do desenvolvimento sustentável. Neste contexto, é necessário que iniciativas de pesquisa sejam incentivadas na busca de alternativas de fontes renováveis, de modo a garantir os princípios de sustentabilidade, considerando os aspectos econômicos, sociais e ambientais do processo de conversão energética.

A contínua exploração dos recursos fósseis para conversão energética é insustentável, cara e geradora de gases poluentes, como o CO2, o qual pode ser considerado o principal gás atmosférico responsável pelo efeito estufa e apontado como o fator determinante das mudanças climáticas.

Dessa forma, não é apenas uma opção econômica a necessidade de direcionamento dos esforços da ciência, tecnologia e inovação para as chamadas energias alternativas.

Por isso é inevitável um processo de movimentação em direção a novas tecnologias que permitam a identificação de novas fontes, o desenvolvimento de tecnologias que permitam seu uso a custos viáveis para solucionar os maiores problemas energéticos contemporâneos: oferta e demanda de energia e de recursos naturais; ditaduras petroleiras; mudanças climáticas; perda de biodiversidade e pobreza energética.

As nações que liderarem essas mudanças serão detentoras de maior fonte de valor agregado e nessa corrida rumo a eficiência energética terão maior sucesso em relação a aquelas que não se anteciparem a definir políticas publicas e instituições capazes de induzir a nova e necessária onde de energias limpas e sustentáveis.

Nesse contexto evolutivo, é que se coloca a energia como questão fundamental e essencial para o desenvolvimento sustentável.

Genericamente a energia poderia ser definida como a capacidade de produzir transformações em um sistema. Esta pode se manifestar de várias formas como, por exemplo: energia mecânica, energia térmica, energia química, energia nuclear, energia magnética, energia solar entre várias outras formas de energia.

Todas elas podem ser convertidas umas nas outras trazendo dessa forma as inúmeras aplicações das transformações energéticas em utilidades para a manutenção da vida moderna.

A histórica evolução da vida indica que com o aumento da população e consequentemente as comodidades que vieram em decorrência dos períodos do homem caçador até o homem moderno houve um incremento exponencial no consumo de energia diário saltando de 12.000 a 230.000 kcal per capita.

A população humana cresceu de 500.000 habitantes no planeta na era primitiva a aproximadamente 7,8 bilhões nos dias de hoje e estima-se que o consumo de energia tenha crescido 1 milhão de vezes.

O uso de diferentes fontes de energia caracterizou esses períodos, como, por exemplo, inicialmente o uso da madeira e animais como fonte de energia, passando pelo carvão, água e vento em tempos mais recentes e ainda pelos combustíveis fósseis na era contemporânea e evoluindo para mais recentemente a utilização de tecnologias inovadoras como a energia solar, eólica e nuclear, embora estas ainda pouco exploradas ao redor do globo por várias razões. Entre estas ultimas ainda podemos citar a energia geotérmica, das marés e a biomassa.

Como citado anteriormente, a vida moderna exige o consumo de energia constantemente devido ao fato de os seres humanos terem a necessidade de serviços energéticos como o aquecimento, os transportes e a refrigeração que podem ser fornecidos a partir de diferentes fontes com maior ou menor eficiência.

Dessa forma, não é correto pensar que a única forma de resolver os problemas energéticos é o aumento das fontes primárias e sim o que realmente faz e fará diferença é a eficiências das transformações em serviços energéticos.

Sabemos que atualmente o sistema energético mundial é fortemente dependente dos combustíveis fósseis por várias razões que não serão discutidas neste trabalho.

Para se ter uma idéia, em 2004 o consumo era de 11 Gtep (G = giga (109); tep = tonelada equivalente de petróleo, 1 tep corresponde à energia produzida pela combustão de uma tonelada de petróleo) e as estimativas mostram para o ano 2030 um consumo de 19 Gtep, ou seja quase o dobro em pouco mais de 25 anos.

No entanto, esse sistema energético com base nos combustíveis fósseis representando aproximadamente 80% da energia primária em 2008, é responsável pelo grande avanço da humanidade na era moderna.

Considerando a matriz energética global, ainda as formas de energia provenientes de fontes renováveis é muito pequena, chegando a 13% da energia primária.

Já no Brasil este percentual chega a 83% contando com a importante contribuição da energia elétrica proveniente das usinas hidroelétricas.

É bom citar que mesmo assim, existem enormes diferenças entre o consumo de energia dos países ditos de primeiro mundo em relação aos emergentes, dessa forma levando a busca de maior equilíbrio global per capita no acesso a energia, sendo este uma das principais metas para o denominado desenvolvimento sustentável.

Embora a era moderna seja caracterizada pelo consumo de combustíveis fósseis e isto tenha sido um fator positivo para o desenvolvimento, existem três problemas básicos que demonstram claramente que o rumo sendo tomado não é sustentável devido a exaustão de reservas, a segurança no abastecimento e os impactos ambientais.

A primeira quer dizer que as reservas de combustíveis fósseis são finitas e, portanto, serão levadas a exaustão. Segundo estimativas o petróleo deve se extinguir em 40 anos, enquanto que o gás natural em 60 anos e o carvão em 240 anos.

Quanto a segurança no abastecimento, pode-se dizer que esta é vital para a geopolítica mundial, sendo que as reservas internas representam fortemente suas posições em negociações internacionais. O Oriente Médio, por exemplo, é uma região de vital importância estratégica que é definida pela dependência das importações de petróleo do Oriente, onde os maiores consumidores  são Estados Unidos, Europa e Ásia. Essa dependência causa desconforto nos países consumidores de petróleo, pois esse processo não garante a sustentabilidade.

O terceiro problema trazido para a “insustentabilidade” são os impactos ambientais. Os problemas relacionados a impactos ambientais podem se dar de formas diferentes. Aqueles de âmbito natural que pelos quais temos pouco ou nenhum controle. No entanto, aqui é preciso ressaltar que se refere a impactos ambientais causados pelas transformações energéticas conduzidas pelo ser humano. Podemos citar algumas delas como exemplo: a emissão de gases do efeito estufa, causando o aquecimento global, a chuva acida causada pela emissão de poluentes a atmosfera e a degradação da fauna e flora decorrentes de desmatamento, queimadas, vazamentos de petróleo, etc.

Esses problemas certamente são muito mais representativos no mundo moderno, não somente pela escala da produção e consumo em que se encontra a atualidade, mas também pelo crescente e exponencial aumento demográfico que se apresenta. Assim, podemos dizer que os problemas ambientais têm inúmeras causas entre elas o aumento da população, os transportes, a agricultura, a indústria e até mesmo o turismo. Daí resume-se o problema da poluição do ar, dos recursos hídricos e do solo, causado pelas formas de transformação da energia.

No entanto, existem soluções propostas para o avanço na utilização responsável e inteligente das diversas fontes de energia, minimizando o impacto causado pelo uso predominante dos combustíveis fósseis e os problemas decorrentes destes.

Estas soluções podem ser classificadas em três categorias, a saber: produção e uso mais eficiente da energia, utilização crescente de energias renováveis, desenvolvimento e utilização de novas tecnologias.

Entre as várias possibilidades que existem de melhorar a eficiência energética, podemos citar várias etapas, entre elas o denominado potencial teórico que representa a otimização com base nas considerações termodinâmicas relacionadas ao uso da energia; o potencial técnico que representa a economia de energia pelo uso de tecnologias mais eficientes; o potencial de mercado representado por condições tais como o preço, disponibilidade, políticas publicas, etc. e por último o potencial social representado pela economia da energia em decorrência das externalidades como, por exemplo, os danos causados ou evitados a saúde, poluição do ar e outros impactos ambientais. Atualmente, a eficiência energética do atual sistema energético mundial é da ordem de 37%, mas acredita-se que nos próximos 20 anos haja avanços da ordem de 30% nos países industrializados e até 40% nos países em desenvolvimento.

Outra solução viável é a utilização de energias renováveis. Dentre elas pode-se citar a geotérmica, oceânica, solar, eólica, biomassa, entre outras. Algumas vantagens podem ser comentadas como sendo as principais quando comparadas  as fontes de energia chamadas não- renováveis. As fontes de energia renováveis emitem muito menos gases promotores do efeito estufa  e poluentes convencionais do que as fontes de energia fósseis. Além disso, as energias ditas renováveis são menos propícias a falhas no abastecimento, são mais constantes nos preços. E ainda, as energias renováveis dependem menos das importações e do mercado externo, contribuem para a geração de empregos localmente e assim promovem o desenvolvimento.

Vale a pena lembrar que a energia é essencial para as atividades humanas e que predominantemente a energia utilizada nos dias de hoje provem de combustíveis fósseis.

Para que essa situação seja mantida, e isto é fundamentalmente a ideologia da sustentabilidade, é necessário que uma maior quantidade de energia seja incorporada ao sistema, já que também é necessário incorporar parte da humanidade que não tem acesso a este insumo neste processo. Dessa forma o cenário pode se agravar e então precisamos de soluções baseadas na melhoria da eficiência energética e a utilização de novas tecnologias. 

Se analisarmos tecnicamente, existem soluções que permitirão conduzir o planeta a uma condição sustentável em relação à energia, no entanto é fundamental que com esse desenvolvimento sejam adotadas tecnologias mais limpas e eficientes além da adoção de energias renováveis para que então realmente seja encontrado o caminho para a sustentabilidade.

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Nesse contexto, o setor agropecuário e agroindustrial com seu potencial produtivo e sendo um setor essencial para atender as atividades humanas, tem um papel fundamental no que diz respeito a produção de biogás e biofertilizantes, assim como tambem promover o consumo consciente de energia e estimulo na utilização de fontes renováveis de energia em suas operações.

É de extrema importância que este segmento do agronegócio desenvolva programas de racionalização no consumo de energias de fontes fósseis e incentive a utilização de fontes renováveis de energia nas suas cadeias produtivas como um todo, por meio da produção de biogás oriundo de resíduos orgânicos animais e vegetais, fazendo com que o ciclo de vida de seus insumos e produtos causem cada vez menos impactos ambientais no sentido de tornarem-se mais sustentáveis. O biogás serve como importante fonte de matéria prima para sua transformação em energia elétrica e térmica, além de produzir o digestato que pode ser utilizado como fertilizante na área agrícola.

Os segmentos agropecuário e agroindustrial tem muito a contribuir com essas questões voltadas para a sustentabiliadade, como sendo um setor de total relevância, estando intimamente ligado a todas as atividades humanas no mundo moderno.

Referências

  • GOLDEMBERG, Jose. Energia e desenvolvimento Sustentável, Editora Blucher, 1ª Edição, São Paulo, 2010
  • PHILIPPI JR, Arlindo; REIS, Lineu Belico. Energia e Sustentabilidade, Editora Manole, São Paulo, 2016
  • NGÔ, Christian. Energia – Motor da Humanidade, Editora Senac, São Paulo, 2011

Sobre o autor

Prof. Dr. Fabio Rubens Soares, possui graduação em Engenharia Química,  Administração de Negócios, Pós Graduação em Gestão Ambiental, Mestrado em Gestão Ambiental e Doutorado em Energia e Pós Doutorado no Instituto de Energia e Ambiente da USP. Diretor da ENVIROSERVICES oferece serviços de Consultoria, Projetos e Treinamentos em Meio Ambiente e Bioenergia (Biogás) para empresas, governo e micro empresas com ênfase em recuperação energética de resíduos, especialmente na produção de biogás por meio de dejetos animais e suinoculturas.

Contato: enviroservices.com.br Telefone: (11) 99948-9832

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Autor: Prof. Dr. Fabio Rubens Soares.
Publicado em:  12 de janeiro de 2022.

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